quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Canção do exílio



Minha amada tem covinhas
Que reluzem ao me olhar
E o brilho do seu sorriso
Nem o sol pode imitar

Sua pele é mais alva
Seus gestos mais delicados
Seus sonhos são mais bonitos
Seus amores mais amados

Quando vôo só à noite
Não tem como não lembrar
Minha amada tem covinhas
Que reluzem ao me olhar

Minha amada tem um toque
Muito raro de se achar
Quando vôo só à noite
Não tem como não lembrar
Minha amada tem covinhas
Que reluzem ao me olhar


Não permita Deus que eu parta
Sem que eu possa me entregar
Àquele abraço gostoso
Que só ela pode dar
Sem qu'inda aviste as covinhas
Que reluzem ao me olhar

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Para onde vai o amor antigo?



Há quem diga que a gente consegue

dar fim àquele amor passado
que não se realizou pela incompletude,
pela falta de sorte, pelo medo...
Mas isso é uma grande mentira!
O amor antigo apenas se muda,
faz as malas e se vai, deixando saudade.
Vai para um local afastado, onde
ninguém terá notícias dele, a menos que queira.
Se instala em um quarto pequeno,
de um tamanho tal que não permite festas,
mas também não dá para se queixar.
Suas paredes são de um tom de azul
que parece o oceano à noite,
e elas possuem em si algumas fotos
em preto e branco, já amareladas pelo tempo.
Algumas vezes, o amor antigo
sai para passear, e gosta de sentar
no banco daquela praça, que no passado
já fez a alegria de tantas crianças,
mas agora só possui uns três
brinquedos enferrujados pela falta das meninices.
Depois, gosta de andar pela rua
sozinho, como quem não sabe para onde ir
porém sabe de cor o caminho de volta.
Enquanto caminha, o sol esporadicamente
lhe faz um agrado, pois as nuvens, em zigue zague,
se perdem pelo céu todo nublado.
Então, já exausto do seu dia
volta para seu quarto, liga a vitrola
e vai para a janela, olhar o movimento
dos sonhos que passam lá embaixo
ao mesmo tempo em que escuta uma balada blues.
Mas, quando recebe uma ligação
Do proprietário do seu antigo lar
dizendo que um outro inquilino
já ocupou a vaga e pretende ficar
o amor antigo dorme, em paz.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Se não fossem os seus olhos



Se não fossem os seus olhos,

Com certeza, o mundo seria mais triste.
Eles são o elo entre mim
E tudo que eu não consigo escrever,
Falar, imaginar, compreender

Se não fossem os seus olhos,

Eu não teria tanta certeza
Da transcendência da matéria,
Da eloqüência de um gesto,
Do futuro da poesia

Quando doce, você pára e divaga

O brilho deles consegue
Me trazer a calma do mar
De Ipanema, e ao mesmo tempo
A noite estrelada de Van Gogh

Se os olhos são a porta da alma

Os seus olhos são a alma
Sem barreira e precedentes
O reflexo da paz que eu nunca
Imaginei poder encontrar

Se não fossem os seus olhos,

Eu não sei o que seria desse lápis
Preto, tão vago
Que parece ter sido feito
Pra encontrar os seus cílios
E contornar a mais bela obra
De vanguarda que o mundo já conheceu

Sim, de vanguarda, porque o seu olhar

Não respeita qualquer padrão
Não se curva a ninguém
Apenas reluz, como uma extensão
De toda a beleza dentro de ti

Às vezes acho que o tempo pausa

Para contemplar os olhos teus
Assim, como quem não quer nada
E tentar descobrir o segredo
Do meu encanto ao te ver

Ah, se não fossem os seus olhos,

Eu não teria dito ao destino:
Eu quero é ser poeta.